As Escolas estão
recheadas de indisciplinas, tanto por parte de gestores, professores quanto os
alunos e demais membros da Escola. Mas, o que é indisciplina?
Segundo Celso Antunes
“indisciplina é a manifestação de objetivos dispersos provenientes de uma
relação social ou interpessoal. É a impossibilidade da aprendizagem
consciente”. É educador desejando ensinar alunos que não possuem vontade de
aprender, é gestores professores e demais funcionários violando normas
escolares, descumprindo regras, sendo impontuais, antiéticos, amorais. Se
procurarmos o significado da palavra “disciplina”, veremos que em seu sentido
etimológico associa-se a ideia de educar, instruir, aplicar, ordem, firmeza,
obediência as regras. A palavra deriva de discípulo, portanto sua origem
corresponde ao ensino que um discípulo recebia de seu mestre. Desse modo vamos
nos ater a disciplina voltada para o aluno já que há um grande volume de queixa
dos professores em relação à indisciplina dos alunos nas escolas.
Uma Escola, uma sala
de aula onde existe conflito certamente abriga indisciplina. Mas, é necessário
ter um olhar positivo sobre o conflito, quando este se opõe a passividade, ao
conformismo, a apatia. Desse modo, a sala de aula pode se aproveitar da imensa
energia existente nos conflitos para ensinar com pertinência, educar melhor.
Acreditamos ser importante repetir que uma sala de aula positivamente agitada,
alunos “acordados” na ansiedade de uma busca, é uma classe que vive seus
conflitos, mas nem por isso não devemos administrar essa ansiedade e construir
uma nova disciplina. Uma disciplina não necessariamente silenciosa, mas que faz
do agito a discussão, do debate a reflexão, da ansiedade a aprendizagem
significativa.
Assim pois,
“legitimar conflitos” significa apagar essa sua imagem negativa, tirar desse
conceito sua associação à culpa à insegurança, à imperfeição. Muitas vezes a
agressividade apresentada em sala de aula é uma ausência de relação, uma
súplica pela atenção do professor, uma vontade maior de um relacionamento mais
próximo.
É claramente sabido
que existem alunos sem limites, Escolas sem normas, e que tais extremos quando
se juntam fazem surgir situações disciplinares difíceis, nas quais o professor
é olhado como desprezível servo ou “empregado” de seus alunos, que atuam como
patrões algozes, com clãs que se organizam para impor autoritarismo. Nesse
contexto, a aula é quase impossível, a aprendizagem uma utopia.
É difícil trabalhar
em Escolas assim, mas se estas existem é porque também existem professores que
a ela se submetem. Indivíduos que, sob o pretexto da sobrevivência trocam
ilusão de migalhas salariais, pelo orgulho que os fazem seres humanos.
Aceitam-se serem humilhados e olham seus alunos como vindo de alturas
inatingíveis. Se os alunos são capazes de se organizarem para impor sua
arrogância, porque seus professores não podem unir suas forças?
É por essa razão que
se torna importante a todo professor conhecer a dimensão exata do seu orgulho e
em nome da dignidade pessoal e profissional, estabelecer limites para a
inviolabilidade de sua pessoa e para as atrocidades as quais se acomodam.
A indisciplina em
sala de aula ocorra onde ocorrer, é sempre violação de regras. As disciplinares
são violadas ou porque existem professores esmagados em seu orgulho ou porque,
talvez esses alunos não foram levados a aprender que sem regras não existe
relação interpessoais, não existe vida em grupo. Sem regras não existe harmonia
no lar, na escola, ou em qualquer outro lugar. O essencial é fazer os alunos
descobrir sua existência, chamá-los para nos ajudar a compor um quadro de
princípios, uma linha de conduta pautada em regras. Quando os professores
ajudam os alunos a compreenderem que as regras são essenciais para qualquer atividade
coletiva, deixam de ser juízes e tornam-se árbitros. Tarefa bem mais simples
porque não se julga ou distribui culpas, mas porque se conhecem os princípios
construídos, administra sua consecução. Mas, se há alunos que não aceitam as
regras e preferem viver sem limites, estes optaram por excluir-se do convívio
social, até chegar o extremo de serem isolados.
Uma verdadeira Escola
é centro operador de aprendizagens, um espaço social e um estabelecimento
especializado em estimular inteligências e desenvolver competências. Será que
todos os professores concordam com esses fundamentos e fazem dela a essência de
seu papel de educador?
A Escola é um centro
gerador de aprendizagens. Ela não é um lugar onde se ensina matemática,
história, geografia, ciências, língua portuguesa, e outras disciplinas; esses
saberes, ao contrário são “ferramentas”
essenciais para que se produzam aprendizagens. Caso, por exemplo, se
deseje, que um aluno saiba “argumentar” ou que ele saiba “pesquisar” são
necessários conteúdos para que, manejando-os de maneira racional, desenvolva a
capacidade de aprender. Uma pesquisa não deve ser passada ao aluno, seja
qualquer sua idade, pelo conteúdo intrínseco do tema, mas porque o tema deverá
ser exercício para que pratique o método da pesquisa. Este é um exemplo de
aprendizagem significativa que torna-se uma grande ferramenta para evitar a
indisciplina, quando esta é gerada por aulas passivas.
A sala de aula é e
sempre foi um espaço que expressa continuidade de vida, reflexo do entorno.
Ora, se a sala de aula é reflexo da sociedade e se a sociedade perdeu a noção
de compostura e disciplina, como esperar que a Escola transforme-se em um
aquário social, tornando-se diferente da rua?
É essencial que se
restaure a disciplina em sala e aula, que se faça desse valor um objetivo a
perseguir. Isso deve ocorrer, não para que a sala se isole da sociedade, mas,
para que ali ao menos se aprenda como tentar modificar o caos e o desrespeito social. Como fazer isso?
Transformando-se a
disciplina em “valor”. Isto é, fazendo com que ela seja vista como uma
qualidade humana, imprescindível à convivência e fundamental para as boas
relações interpessoais. A disciplina jamais pode chegar ao aluno como ordem, um
castigo, um imperativo que partindo do mais forte , dirige-se ao oprimido em
nome do seu conforto pessoal. Mas, como “produto” de debate, reflexão, estudo
de caso, análise, no qual se percebe a hierarquia de povos disciplinados sobre
clãs sem mando ou sobre sociedades oprimidas.
A questão da
“Disciplina” poderia se transformar em um projeto interdisciplinar, no qual os
alunos de séries e níveis diferentes fossem instigados a percebê-la na
história, observá-la na geografia, compreendê-la na literatura e praticá-la na
educação física.
Não seria difícil que
emergisse desse projeto códigos de ética e linhas de conduta para a Escola,
para o lar, para o entorno, ou seja, locais onde o aluno pudesse descobrir que
ser disciplinado não é apenas obrigação, mas opção de valor assumido com
orgulho e respeito por todos.
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, C. Professor
bonzinho=aluno difícil – A questão da indisciplina na sala de aula. Petrópolis:
Vozes, 2002. Coleção na sala de aula.
AQUINO,
J. G. (Org.) Indisciplina na Escola – Alternativas teóricas e práticas. 4.
ed.SP: Summus, 1966.
DELORIS.
J. (Org.) Educação, um tesouro a descobrir – Relatório da UNESCO da Comissão
para a Educação do Século XXI. Brasília: Cortez/MEC, UNESCO, 1999.